Estamos em 1993. Eu com os meus 11 anos, franzina e com óculos de massa maiores que a minha cara, inicio o meu primeiro diário. Sim. Daqueles com um cadeado que se abre com um gancho, capa grossa com ursinhos e folhas perfumadas.
Talvez a maioria das miúdas ficasse com o diário a meio para nunca mais voltar a escrever nele, mas eu escrevi diários até aos meus 18 anos (e antes que deliberadamente me chamem “nerd” enquanto tossem a fingir, leiam isto até ao fim).
Escrevi uns 10 ou 11 deles. Completos.
Ficaram registados vários momentos marcantes…
Como me senti ao ter chegado o “Benfica” pela primeira vez (quem é mulher sabe…);
Como foi o meu primeiro beijo (adianto que foi deprimente);
Como era o meu dia-a-dia na escola – do 6º ano ao 12º ano!
Como superei desilusões amorosas;
O momento em que conheci o meu atual marido (eramos miúdos de 14 anos, que lindos);
Poemas, Teses sobre a Vida e sobre Parvoíces.
Aliás, sempre tive uma regra própria: nunca registar nem descrever maus momentos, para que no futuro não me lembrasse deles. Mas eles ficam… Mas não moem, por isso, continuemos.
Naquela altura, o meu sonho era ter uma filha para que numa espécie de “herança-concedida-estando-ainda-viva”, ela pudesse ler e conhecer a sua mãe sem filtros (eu lá sabia o que isso era naquela altura…) e quem sabe, o meu eu de 12, 14, 16 ou 18 anos, pudesse ajudá-la a ultrapassar ou compreender as cenas da vida.
A boa notícia é que ela (a mais velha) já sabe ler e poderia se identificar já com o primeiro diário! Teria tanto para ler… E eu ficaria tão feliz, assistindo a um sonho concretizado de lágrimas nos olhos e mão no peito.
A má notícia é que todos os diários neste momento devem estar compactados num aterro sanitário a largos metros de profundidade do solo. Ou numa perspetiva mais romântica (mas igualmente triste), as várias páginas repletas de sonhos e momentos únicos de adolescente, devem ter sido transformados em rolos de papel de cozinha.
O que aconteceu? Perguntam vocês.
A minha mãe despachou-os numa limpeza. Daquelas limpezas em que vai tudo atrás.
Não esperavam este desfecho, pois não? Nem eu.
Mas aqui estou, porque eu não sou aquele diário (sim, eram mais de 10, mas isso agora não interessa). Mas sabem que mais?
“Passará o céu e a terra, [incluindo os diários escritos por uma adolescente qualquer] mas as Minhas Palavras jamais passarão”. (Mateus 24:35)
Guarda o que foste. Esquece o que não acrescenta. Vive o presente como um Presente DELE.
Com ou sem diário, cá continuamos a deixar as nossas marcas no dia-a-dia!
P.S. E sim. A minha querida mãe está perdoada.
“Flor de sal”
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